O homem que salvou a Nissan e quase a derrubou: lições para o agromarketing

Ilustração mostrando um executivo com gráficos e elementos do agronegócio simbolizando lições estratégicas e riscos.

Imagine uma montadora afundada em 20 bilhões de dólares; agora imagine transformá-la em lucro em poucos anos — e ver essa recuperação ameaçada por falhas de governança e excesso de concentração de poder. Para quem atua em agromarketing, essa história é mais que curioso case sobre carros: é um manual vivo de decisões estratégicas, execução tática e riscos culturais. Aqui você vai acompanhar como Carlos Ghosn aplicou cortes cirúrgicos, foco em produto e alianças globais para salvar a Nissan — e como escolhas fora do plano quase custaram tudo. Vou mostrar analogias com safra, cadeia de insumos e canais de venda, além de ações concretas que analistas e gestores em agroindústrias, revendas, lojas de maquinários, indústrias de insumos e agritechs podem aplicar em marketing digital e estratégia comercial.

Crise profunda e o diagnóstico cortante que salvou a Nissan

Crise profunda e o diagnóstico cortante que salvou a Nissan

A sala de reuniões estava fria. Luz branca, ar-condicionado insistente. Na mesa, pilhas de planilhas. Números que sangravam prejuízo. Executivos calados. Vozes cansadas. Havia uma sensação de fim. Mas ainda havia escolha. Um novo líder entrou com uma missão simples e cruel: salvar o que dava lucro, cortar o que consumia ar. Era 1999. A empresa enfrentava cerca de 20 bilhões de dólares em dívida. Perdas operacionais haviam corroído caixa. Portfólio inchado. Fábricas rodando abaixo da metade da capacidade. Uma cultura interna resistente a mudanças. Resistência em cada andar. Em cada forquilha de decisão. Precisava-se de um diagnóstico cirúrgico. Que veio rápido e direto.

O contexto econômico e industrial ali era brutal. Concorrência global mais eficiente. Demanda volátil. Custos fixos altos devido a plantas espalhadas. Excesso de SKUs diluía margem e complicava logística. Estoques imobilizados amarravam capital de giro. Fornecedores numerosos e pouco alinhados com metas de custo. Internamente, a tomada de decisão era descentralizada demais. Prioridades conflitantes. Assim, a empresa acumulava receita, mas não margem. O novo plano colocou liquidez e margem à frente do volume. Prioridade: sobreviver, depois crescer. Sem essa prioridade, cortes seriam cosméticos.

O diagnóstico entregue recebeu um nome e um caminho claro: o plano de recuperação. Era um plano brutal. E organizado. Seis frentes definidas. Cada frente atacava uma raiz do problema. Foi preciso mais que palavras. Foram metas, prazos e penalidades. Bônus atrelados a resultado. Metas mensuráveis. Abaixo, as frentes, cada uma com explicação e uma analogia direta ao agronegócio.

1) Corte cirúrgico: fechamento de plantas e redução de capacidade ociosa. Muitos equipamentos e fábricas consumiam custos fixos sem gerar margem. Parar planta é doloroso. Demite, realoca, vende ativos. No agro, é equivalente a descontinuar linhas de produtos agrícolas que consomem risco e capital sem retorno. Manter uma linha de defensivo ou um blend de adubo que vende pouco, só para “completar portfólio”, muitas vezes mata margem. Fechar é assumir custo hoje para recuperar saúde amanhã.

2) Foco em SKU rentável: concentrar esforços em modelos que trazem margem. Reduzir variedade, padronizar. No agro, isso significa priorizar sementes e formulações que realmente remuneram. Menos SKUs, mais foco comercial. Isso reduz complexidade logística e melhora taxa de conversão nas campanhas.

3) Racionalização de fornecedores: consolidar compras, renegociar contratos e reduzir a cadeia de suprimentos. No caso automotivo, menos fornecedores, mais volume com cada um. No agro, é consolidar fornecedores de sementes, fertilizantes e defensivos. Assim garante-se qualidade, lead times e preços melhores. Escala traz previsibilidade e eficiência.

4) Sinergia de alianças: alinhamento com parceiro estratégico e compartilhamento de plataformas. No automóvel, foi uma aliança que permitiu dividir P&D e plataformas. No agro, pense em parcerias entre agroindústrias e distribuidores para compartilhar logística, P&D de formulações, ou mesmo plataformas digitais de venda. Compartilhar custos reduz o risco individual.

5) Centralização de decisões operacionais: autoridade clara para decisões críticas. Cortes e lançamentos saem mais rápidos com menos consulta burocrática. No agro, centralizar critérios de lançamento e promoção nas mãos de um time de produto evita iniciativas locais que redundam em estoques duplicados e campanhas desencontradas.

6) Metas claras e bônus por resultado: remuneração ligada a métricas financeiras. Esse move alinha comportamento. No agronegócio, estabelecer comissões por margem e não por volume modifica o jogo nas revendas e times comerciais.

Cada frente vinha com metas, cronograma e critério de sucesso. Liquidez estava no topo. Não era orgulho. Era caixa. O plano visava margem e fluxo, antes de retomar volume. Vender mais não resolve se cada venda custa dinheiro.

Para tornar prático, segue uma tabela comparativa simples:

| Problema na Nissan | Medida de Ghosn | Equivalente no Agro |
|—|—:|—|
| Dívida alta e perda de caixa | Fechamento e venda de ativos; foco em liquidez | Vender ativos improdutivos; reduzir linhas que imobilizam capital |
| Excesso de SKUs | Racionalização do portfólio; foco em modelos rentáveis | Descontinuar variedades de baixa margem; priorizar híbridos vencedores |
| Fornecedores dispersos | Consolidar fornecedores e negociar volume | Consolidar fornecedores de insumos; contratos por volume |

Dados históricos lembram o tamanho do desafio: a dívida próxima de 20 bilhões de dólares e operações com capacidade subutilizada exigiam medidas drásticas. O plano foi claro: priorizar liquidez e margem acima de volume. Esse é um ponto que muitos gestores do agro ainda resistem a entender. Vender mais, sem margem, só posterga o problema.

As decisões foram impopulares. Funcionários perderam cargos. Fábricas fecharam. Mas os números começaram a respirar. Caixa melhorou. Margens subiram. As mudanças criaram espaço para investir em produtos que realmente entregavam retorno.

Para gestores de marketing no agronegócio, as lições são diretas e acionáveis. O marketing não é apenas comunicação. É gestão de portfólio. É alinhamento com finanças e operações. Aqui estão recomendações práticas, métricas e sinais de alerta.

  • Avalie SKUs que consomem mais de 5% do tempo do time de vendas e geram menos de 2% da receita. Se existe, corte.
  • Priorize SKUs com margem bruta superior a X pontos percentuais da média do portfólio. (Sugestão: +5 pp sobre média.)
  • Considere custo total de propriedade de um SKU: logística, promoções, treinamento e crédito. Some tudo.
  • Meça capital imobilizado por linha de produto. Produtos com estoque imobilizado por mais de 90 dias são candidatos diretos a revisão.
  • Use contratos de fornecimento com cláusulas de performance e preços por faixa de volume. Negocie descontos por comprometimento.
  • Vincule bônus do time comercial à margem incremental por SKU, não ao volume vendido.

Insights práticos — recomendações diretas para gestores de marketing no agro:

  1. Mapear lucro por SKU e CAC por canal. Separe por safra.
  2. Identificar SKUs com giro < 3 meses e margem negativa. Descontinuar ou relançar.
  3. Reduzir SKUs de baixa rotação em 20% no primeiro ciclo de 12 meses.
  4. Consolidar fornecedores-chave e negociar 90 dias de prazo médio de pagamento.
  5. Implantar metas trimestrais de margem para equipes de campo.
  6. Criar plano de liquidação para estoques imobilizados com metas e descontos controlados.

Um detalhe prático: há materiais e guias que ajudam a formar times mais ágeis. Para quem trabalha marketing no agro, um bom ponto de partida é revisar práticas em Marketing para empresas do agro. Esse tipo de leitura ajuda a traduzir cortes em comunicação com mercado e canais.

A história mostra que uma virada exige coragem e métodos. Coragem para fechar, e método para priorizar. Coragem para cortar, e disciplina para medir. O remédio é amargo. Mas funciona. E quando a margem volta, o marketing tem espaço para investir em crescimento inteligente.

A próxima etapa é execução. E marketing que transforma remédio amargo em resultado mensurável. Pronto para ver como a execução e o reposicionamento fazem o número andar?

Execução, marca e marketing estratégico aplicáveis ao agro

Execução, marca e marketing estratégico aplicáveis ao agro

Execução. Marca. Canal. Era o que precisava a empresa que respirava por aparelhos. A história é conhecida: cortes não bastam. O que virou o jogo foi a combinação de reposicionamento de produto, gestão de portfólio e foco cirúrgico em canais de distribuição. Foi mais do que fechar fábricas. Foi escolher o que vender. Foi alinhar produto e promessa de marca. Foi usar alianças para compartilhar plataformas e reduzir custo de P&D. Simples na teoria. Doloroso na prática. Mas eficaz.

A lição para o agro é direta. Não adianta cortar custos e manter um portfólio que confunde compradores e consome capital. A agroindústria precisa olhar para margens por SKU, para o ciclo de vida dos produtos e para como canais diferentes afetam CAC e conversão. Em vez de pensar em cada item como sagrado, pergunte: este SKU ajuda a marca? Gera margem? Potencial de venda por canal?

Conteúdo e produto alinhados

O movimento estratégico incluiu reposicionar modelos para segmentos que pagam mais. Produtos premium, modelos populares com boas margens, e descontinuar o resto. No campo, isso se traduz em priorizar sementes e defensivos com melhor retorno por hectare. Em fertilizantes, priorizar formulações que dão maior margem ao distribuidor. Não é só tirar do catálogo. É realocar atenção comercial e marketing.

Gestão de portfólio e plataformas compartilhadas

Na indústria automotiva foi crítica a decisão de compartilhar plataformas com a aliada. Reduziu P&D. Acelerou lançamentos. No agro isso significa: padronizar formulações, embalagens e componentes que podem ser usados em várias linhas. Economia de escala em P&D e logística. Plataformas modulares — formulações base que recebem diferenciação por embalagem ou posicionamento — reduzem custo e complicam menos o catálogo.

Canais e distribuição com foco em rentabilidade

Nem todo canal vale igual. Revendas oferecem reach e serviço técnico. E-commerce B2B ganha escala e dado. Distribuidores trazem penetração regional. O que mudou na Nissan foi priorizar canais que entregavam margem e volume previsível. Para o agro: medir CAC por canal. Medir tempo de fechamento. Medir churn de clientes por canal. Depois, alocar orçamento e campanhas para onde o ROI aparece.

Um exemplo prático: reduzir SKUs melhora a taxonomia de produto nas plataformas de e-commerce agrícola. Menos variações, descrições mais claras, filtros que funcionam. Resultado: menor abandono de carrinho. Menos erro no picking. Menos suporte técnico na venda. Vender um trator novo pode ser tratado como relançamento de um modelo de carro: preparar demo, criar materiais de diferenciação, treinar rede, lançar campanha digital segmentada para compradores com perfil certo. Fazer como se o produto tivesse uma personalidade clara.

Cultura e centralização de decisões

Centralizar acelerou a execução. Mas centralizar exige comunicação e treinamento. No campo, centralizar decisões estratégicas de portfólio e preço significa que revendas precisam entender a lógica. Treinamento contínuo. Playbooks. Scripts de venda. A combinação: decisões rápidas com execução local bem treinada. Sem isso, as mudanças batem na resistência.

Lista prática: táticas digitais e comerciais para aplicar agora

1) Mapear lucro por SKU e CAC por canal. Dados são a base.
2) Priorizar campanhas pagas para SKUs com maior margem incremental. Teste e escale.
3) Racionalizar comunicações e landing pages para reduzir custo por lead. Uma oferta, um objetivo.
4) Padronizar contratos com fornecedores-chave para ganho de escala. Volume = desconto.
5) Implantar KPIs semanais claros e dashboards para time comercial. Sem transparência não há ritmo.

Tabela comparativa

| Ação Nissan | Objetivo | Equivalente no Agro | KPI recomendado |
|—|—|—|—|
| Priorizar modelos rentáveis | Aumentar margem operacional | Focar em sementes/defensivos com maior margem | Margem bruta por SKU (%) |
| Racionalização de fornecedores | Reduzir custo e complexidade | Consolidar fornecedores de insumos | % de compras concentradas (top 3 fornecedores) |
| Compartilhar plataformas com aliança | Diminuir custo de P&D | Padronizar formulações e embalagens | Custo de P&D por SKU (R$) |
| Foco em canais rentáveis | Maximizar margem por canal | Alocar investimentos entre revendas, distribuidores e e-commerce | CAC por canal (R$/cliente)

Transposição tática detalhada

  • Revisão de portfólio: faça um inventário com rotatividade, margem e complexidade logística. Corte SKUs que consomem tempo e capital sem retorno. Deixe claro: menos SKUs significa melhor SEO interno, tags mais consistentes e filtros eficazes em marketplaces. Menos confusão para o vendedor.

  • Campanhas digitais por rentabilidade: crie audiências baseadas em valor do cliente. Segmente por produtividade da fazenda, porte e histórico de compra. Configure campanhas pagas com bid otimizado para SKUs mais rentáveis. Teste criativos com chamadas que enfatizam economia por hectare.

  • Otimização de canais: defina papel para cada canal. Revendas = serviço e teste; e-commerce B2B = reposição rápida; distribuidores = volume regional. Cada canal com política de preço e comissionamento distinta.

Aspecto cultural e execução no campo

Centralizar decisões acelera. Mas centralizar sem preparar a ponta gera danos. Treine revendas. Crie materiais simples. Faça roadshows. Use líderes regionais como embaixadores. Reforce com incentivos alinhados a margens, não apenas volume. Comunique motivo das mudanças. Repita. Treine de novo.

8 insights de marketing digital para agro

  1. Otimize funil para revendas: crie páginas específicas com preço sugerido, ficha técnica e vídeo de uso. Menos perguntas no primeiro contato.
  2. Automação para follow-up de leads de safra: fluxo com disparo por comportamento e prioridade por valor da oportunidade.
  3. Segmente campanhas por área plantada e cultura. Use dados de perfil para reduzir desperdício de mídia.
  4. Use catálogo dinâmico em campanhas para mostrar SKUs com margem alta primeiro.
  5. Implementar lead scoring com atributo de rentabilidade por SKU.
  6. Teste ofertas combinadas (bundle) que aumentam ticket médio e simplificam logística.
  7. Promova conteúdo técnico (case de uso) para reduzir custo de suporte pré-venda.
  8. Centralizar relatórios semanais com dados de CAC, ROAS e taxa de conversão por SKU.

Checklist operacional para os primeiros 90 dias

  • Dia 0–7: montar o mapa de SKUs com margem, rotatividade e custo de estoque.
  • Dia 8–21: definir top 30% de SKUs prioritários e eliminar/colocar em obsolescência o bottom 20%.
  • Dia 22–35: rodar testes A/B de landing pages para os SKUs prioritários.
  • Dia 36–50: reconfigurar canais: política de preço por canal, comissões e material de vendas.
  • Dia 51–65: treinar força de vendas e revendas com playbook digital e kit de lançamento.
  • Dia 66–80: iniciar campanhas pagas focadas em SKUs com maior margem incremental.
  • Dia 81–90: consolidar dashboards semanais e revisar KPIs. Ajustar alocação de mídia.

Notas táticas e exemplos práticos

  • Reduzir SKUs melhora taxonomia. Menos variações significa filtros mais simples. Consumidor encontra o produto. Conversão sobe. Turnover de estoque cai.
  • Lançamento de um trator = relançamento de um carro. Preparar demos, conteúdo técnico, prova social, segmentar por perfil de comprador, nutrir leads por 30-60 dias até demo presencial.
  • Padronizar contratos. Centralize termos de prazo e devolução. Ganho em logística e previsibilidade de preço.

Cuidado e possíveis armadilhas

Centralizar demais pode quebrar confiança com parceiros. Remuneração desalinhada derruba adoção. Treine, comunique e valide. Monitore performance com frequência. Ajuste incentivos. Não espere milagres da primeira campanha.

Integração com conteúdo prático

Para quem quer se aprofundar em como e-commerce e marketplaces transformam a presença digital no campo, veja o nosso material sobre e-commerce no agronegócio: https://chaagromkt.com.br/e-commerce-no-agronegocio/ — é um bom complemento operacional.

Feito direito, a combinação de portfólio enxuto, plataformas compartilhadas, canais otimizados e campanhas digitais orientadas por margem transforma resultado. Feito errado, você corta o que é essencial e mantém o que pesa. A diferença é execução. E execução depende de dados, ritmo e comunicação. Simples. Brutal. Funciona.

Governança, risco e as lições que quase destruíram a recuperação

Governança, risco e as lições que quase destruíram a recuperação

A história da virada operacional é cinematográfica. Corte de custos. Foco em margem. Reposicionamento de portfólio. Tudo isso aconteceu. Mas existe o outro lado. O mesmo motor que acelerou a recuperação também sobrecarregou a máquina de governança. Concentração de poder. Decisões fora do conselho. Um menu de riscos que antes era tolerado, depois explodiu.

Carlos Ghosn é a figura central desse dilema. Liderou uma recuperação com mão firme. Cortou gente, mudou fábricas, redesenhou linhas. Ganhou resultados rápidos. Mas também colocou interesses pessoais acima de processos. Houveram episódios que tensionaram diretores e reguladores: declarações de remuneração que não batiam com documentos fiscais, acordos internos não formalizados no conselho e movimentações financeiras pouco transparentes. Conflitos com diretores apareceram quando decisões estratégicas foram tomadas sem consulta adequada. Reguladores reagiram quando discrepâncias contábeis vieram à tona. A reputação sofreu. A marca, antes associada a eficiência e qualidade, ficou manchada por meses. A aliança — que prometia sinergias e economia de escala — entrou em crise de confiança interna.

Os efeitos foram claros e rápidos. Boatos. Investidores inseguros. Fornecedores questionando contratos. Parceiros comerciais se retraindo. A aliança técnico-comercial que permitia compartilhar plataformas ficou tensa. A perda de confiança se traduziu em custo financeiro e em oportunidade perdida no lançamento de novos produtos. No campo do marketing, campanhas perderam o tom. O story que vendia confiança virou ruído. A lição? Execução sem governança é frágil. Muito frágil.

Transpondo para o agro: empresas que gerenciam crédito rural, financiamento de safras e parcerias comerciais não operam num vácuo. São ecossistemas complexos. Um executivo com poder concentrado pode acelerar decisões. Mas também amplifica riscos regulatórios e reputacionais. Imagine uma indústria que decide modificar linhas de crédito para revendas sem formalizar processos. Ou uma agritech que concede bônus com métricas opacas. Risco grande. No campo, credibilidade é moeda. Uma falha pode disparar inadimplência, fuga de parceiros e dano irreversível à marca.

Então o que fazer? Governança, compliance e transparência não são jargões. São ferramentas de sobrevivência. Comerciantes rurais negociam prazos e confiança. Produtores avaliam contrapartidas com olhos clínicos. Uma política clara reduz litígios. Evita escândalos. Garante continuidade. E protege campanhas de marketing, que passam a conversar sem ruído com a promessa entregue ao campo.

Políticas práticas que toda agroindústria e agritech deveria adotar:

  • Estabelecer um Comitê de Compliance com membros independentes. Reuniões mensais, pauta publicada.
  • Separação clara de funções executivas e de supervisão. Conselho com autonomia real.
  • Rotinas de auditoria de contratos comerciais e financeiros, trimestrais.
  • Políticas transparentes de atribuição de bônus e metas, com auditoria externa em casos sensíveis.
  • Processos formais para aprovação de parcerias e concessão de crédito.
  • Cadastro unificado de fornecedores e due diligence periódica.
  • Mapeamento de riscos comerciais e operacionais com plano de mitigação articulado.
  • Cultura de denúncia protegida — canais seguros e anônimos para irregularidades.
  • Treinamento obrigatório para times de vendas e marketing sobre compliance e limites legais.
  • Documentação obrigatória de reuniões estratégicas e atas públicas do conselho.

Agora, um quadro prático para marketing e vendas. Risco x Sinal de alerta x Medida preventiva:

| Risco | Sinal de alerta | Medida preventiva |
|—|—|—|
| Manipulação de dados de mercado | Relatos de discrepância entre CRMs e relatórios | Auditoria mensal de dados, validação externa |
| Contratos com fornecedores favorecidos | Termos não competitivos, pouca concorrência | Procure rotinas de RFP e comitê de compras |
| Promessas de performance não mensuráveis | Metas vagas, KPIs subjetivos | Definir métricas SMART, revisão com auditoria |
| Atribuição opaca de bônus | Metas reajustadas retrospecitvamente | Política de bônus documentada e auditores independentes |
| Falta de aprovação formal para ofertas de crédito | Acordos orais com revendas | Checklist obrigatório para concessão, aprovação em 2 níveis |
| Uso indevido de verba promocional | Desvios entre orçamento e execução | Plataforma única de gestão de verba, reconciliação mensal |
| Comunicação comercial enganosa | Reclamações recorrentes de clientes | Revisão legal de claims, amostra de testes documentada |
| Dependência de um único executivo para decisões-chave | Ausência de substituto, decisões urgentes | Plano de sucessão e matriz de decisão escrita |
| Vazamento de estratégia digital | Campanhas internas vazadas antes do tempo | Política de acesso a campanhas e NDA para agências |

(Repare que riscos críticos estão em negrito. Recomendações culturais aparecem em itálico.)

Políticas operacionais específicas para implantação agora:

  1. Criar um comitê de compliance com representantes independentes e setoriais.
  2. Instituir separação de poderes: decisões de crédito aprovadas por comitê, não por indivíduo.
  3. Implantar auditorias trimestrais de contratos e campanhas digitais.
  4. Padronizar contratos com fornecedores e revendas. Versão única e assinada digitalmente.
  5. Publicar políticas de bônus e metas. Disponibilizar para toda equipe.
  6. Automatizar logs de alteração em sistemas CRM e ERP para rastreabilidade.
  7. Treinar times comerciais em legislação, antissuborno e comunicação responsável.
  8. Estabelecer um plano de crise digital com resposta em 48 horas.
  9. Validar todo claim de marketing com evidência técnica antes de publicar.
  10. Monitorar reputação em canais digitais e revendas, com relatórios semanais.

Deixo agora 10 lições práticas e aplicáveis, curtas e diretas:

1) Nunca amarre 70% do pagamento variável a uma métrica única sem auditoria independente.
2) Crie um plano de crise digital para proteger reputação em 48 horas.
3) Documente decisões estratégicas e faça revisões trimestrais em ata.
4) Exija duas assinaturas para concessão de crédito acima de X valor.
5) Padronize contratos e implemente renovação automática por compliance.
6) Monitore discrepâncias entre CRM e ERP com alertas automáticos.
7) Faça due diligence pública de fornecedores-chave a cada 12 meses.
8) Treine revendas e times de campo em políticas comerciais e mensagens.
9) Use auditorias externas em concessões de bônus e incentivos.
10) Mantenha um canal anônimo de denúncias e responda em 30 dias.

A cultura importa tanto quanto a regra. Valorize a transparência. Celebre quem traz problemas, não só quem fecha negócios. Pequenas mudanças de comportamento reduzem riscos grandes. Treine, repita, audite.

Este capítulo não é só história. É aviso. A recuperação que foi conquistada com velocidade quase se perdeu por falta de controles. No agro isso é fatal. Crédito mal dado vira inadimplência em safra. Contrato frágil vira litígio que queima caixa. Comunicação enganosa destrói canais de distribuição. Não é teoria. São casos reais. E evitáveis.

Se você dirige uma agroindústria ou uma agritech, cheque suas práticas hoje. Alinhe com marketing. Reforce compliance. Ajuste a arquitetura de decisões. Se quiser ler mais sobre como estruturar ações de marketing alinhadas a processos, veja este guia de marketing para empresas do agro: https://chaagromkt.com.br/marketing-para-empresas-do-agro/ — uma referência prática para quem precisa casar execução com governança.

Agora, uma provocação final: aplique essas lições no próximo ciclo de safra. Reduza pontos únicos de falha antes da colheita. Teste o plano de crise digital. Revise contratos com revendas. Faça uma simulação de auditoria de bônus. Se não fizer, a próxima crise pode não ser só reputacional. Pode ser financeira. E aí o custo será bem maior.

Segue para a conclusão do artigo. Aplique. E prepare-se para agir no ciclo que vem — antes que a colheita traga surpresas indesejadas. CTA: reveja suas políticas e implemente pelo menos três medidas desta lista nas próximas oito semanas.

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